A AULA-OFICINA NA PRÁTICA
PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DAS AULAS GARANTINDO A PESQUISA HISTÓRICA
Ensinar história é ensinar a pensar a historicidade do cotidiano, da vida. Assim, o ensino de história deve ser embasado no ensino de ferramentas historiográficas aos estudantes através de análise de fontes históricas.
Contudo, nossa experiência em sala de aula nos ensinou que aulas expositivas, quer sejam para introduzir ou concluir temas, quer sejam determinadas por imprevistos de diferentes ordens na escola, são uma realidade em boa parte do ano letivo.
Algumas situações dificultam muito o trabalho de se ensinar história e não foram poucas as vezes em que o quadro e o giz foram as únicas ferramentas possíveis, muito menos pela indisponibilidade de recursos pedagógicos diferenciados e muito mais por determinantes várias: situações de conflitos entre os estudantes, questões administrativas do colégio, obras que se iniciam junto das aulas, dificuldades ligadas a defasagens graves de conteúdos prévios necessários ao desenvolvimento da aula-oficina, enfim, situações nas quais nós, professores de história, não conseguimos produzir, como gostaríamos, o conhecimento histórico com os estudantes.
As diferentes situações reais com as quais convivemos diariamente em nossas escolas permanecerão. A realidade da pandemia, inicialmente com o afastamento físico das escolas e a concretização das aulas remotas e, no início de 2021, com as incertezas da retomada das aulas presenciais ou de forma híbrida, demonstraram nossa incapacidade de controlar estas condicionantes. Porém, como afirma Karnal, o ensino de história não repousa nos recursos, estes são meios para que a concepção de história de cada professor possa garantir o trabalho de se ensinar história a partir da construção do conhecimento pelos estudantes. Segundo Leandro Karnal:
[...] uma aula pode ser extremamente conservadora e ultrapassada contando com todos os mais modernos meios audiovisuais. Uma aula pode ser muito dinâmica e inovadora utilizando giz, professor e aluno. Em outras palavras, podemos utilizar meios novos, mas é a própria concepção de História que deve ser repensada (KARNAL, 2010, p. 9).
Assim, nossa proposta de aula-oficina, não tem a pretensão de ser uma prática de absolutamente todas as aulas, visto que ao menos questões introdutórias e de contextualização podem ser produtivas com aulas-conferência, segundo a expressão de Isabel Barca para se referir às aulas expositivas e centradas no professor. Entretanto, também não acreditamos que seja válido tratar este modelo de aula-oficina como um evento, algo a ser preparado e divulgado por um longo período, para ser desenvolvido em um momento especial.
Segundo todos os autores trabalhados em nossa pesquisa, o desenvolvimento da cultura histórica e a produção do conhecimento histórico passa, necessariamente, pelo desenvolvimento da literacia histórica, o que demanda o trabalho com fontes. Portanto, podemos afirmar que este modelo pode ser aplicado de forma gradual e, em um processo de incremento, se tornar mais e mais frequente, até o ponto em que seja naturalizado. Daí a pertinência de nossa pesquisa que não apresenta algo revolucionário, mas uma possibilidade de desenvolvimento de um tema proposto com base na aula-oficina.
A imensa possibilidade de documentos e fontes históricas demanda o rigor metodológico no tratamento e análise dessas fontes, tanto no trabalho do pesquisador quanto no trabalho em sala de aula da educação básica. Não é o objetivo do ensino de história tornar todos os estudantes da educação básica historiadores profissionais, mas apresenta-los às ferramentas do Metier de L'Historien (trabalho do historiador), de forma a significar sua historicidade enquanto tal, para que possam desenvolver e sofisticar sua cultura e consciência histórica refletindo sobre sua própria existência.
Dessa forma, ao apresentar diferentes documentos, abordagens e temas aos estudantes e ensinar-lhes os diferentes métodos e critérios de análise destes documentos, o professor precisa “passear” por diferentes pressupostos teóricos da História enquanto ciência. Este é o ponto que torna o trabalho do professor qualificado no sentido de ser necessária a compreensão de conceitos básicos destas diferentes linhas teóricas que serão desenvolvidas em sala, mesmo que em um nível menos profundo quando comparado a uma produção historiográfica acadêmica.
Isto posto, podemos lhe mostrar, no menu abaixo, aspectos teórico-metodológicos gerais para o tratamento, análise e interpretação das fontes históricas, principalmente em sala de aula com estudantes da educação básica e também sugestões de sequências didáticas, com enfoques temáticos específicos, sempre dentro de nosso tema principal de pesquisa. Todas as sequências, independentemente do enfoque selecionado, se utilizam das fontes por nós apresentadas neste site.
Sinta-se livre para se utilizar, analisar e nos apontar eventuais falhas ou críticas a nosso trabalho.