ABERTURA POLÍTICA
CONTRADIÇÕES DO PROCESSO LENTO, GRADUAL E SEGURO

Fotógrafos baixam as câmeras diante de Figueiredo em 24 de janeiro 1984. Foto: J. França
O ufanismo do milagre econômico mantinha a sustentação popular ao regime e junto do aparato repressivo, estava garantido o silêncio. Entretanto, após os resultados da crise do petróleo de 1973, a economia deixou de sustentar o governo e as vozes contrárias começaram a pulular em ações de diversas entidades como, por exemplo, os movimentos ligados à frente oposicionista: estudantes, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O assassinato do jornalista Vladimir Herzog em 1975, com a ridícula encenação de suicídio, catalisou a luta oposicionista ainda em meio a censura e repressão.
Dessa forma, a partir de 1975, em meio a tensões e distensões do governo, manifestações e greves ressurgindo, o medo cambaleante entre um novo 1968 e um 1917 à brasileira, a abertura política lenta, gradual e segura, sob os auspícios das negociações entre liberais e militares caminhou em direção à volta dos civis ao governo federal.
O auge do movimento de abertura política, complexo e com resultados contraditórios foi o movimento Diretas Já, campanha popular pela aprovação da Emenda Dante de Oliveira. Só em São Paulo, no comício de abril de 1984, 1,6 milhão de pessoas participaram. Como resultados de negociações entre diversos atores da política, a emenda foi rejeitada e o primeiro presidente civil após 21 anos seria eleito de forma indireta.
Em janeiro de 1985, Tancredo Neves foi eleito pelo colégio eleitoral e, com promessa de convocação imediata de uma nova Assembleia Constituinte e declarando ser contrário ao revanchismo, apresentou um desfecho conciliador e tranquilo para a abertura política que seria, enfim, lenta, gradual e segura.
Entretanto, em uma ode à imprevisibilidade histórica, Tancredo caiu doente antes de sua posse, criando um impasse sobre a sucessão, afinal, o vice-presidente poderia tomar posse sendo que o cabeça de chapa não havia sido empossado? O presidente da Câmara dos Deputados, Ulisses Guimarães e o vice presidente, José Sarney, eram desafetos dos militares e esta situação colocava no horizonte o risco de um novo golpe.
Foi após um longo processo de negociação e relutância que Sarney tomou posse, assumiu o desafio de convocar a Assembleia Constituinte em meio a uma crise inflacionária estratosférica.
P.S.: João Batista Figueiredo, o último presidente militar, se recusou a transferir a presidência da república e saiu do palácio pela porta dos fundos. Os militares que arrombaram a porta da frente da democracia, saíram quase que escondidos pela porta dos fundos.