APONTAMENTOS
TEÓRICO-METODOLÓGICOS
REFLEXÕES PRÁTICAS SOBRE O TRABALHO COM DOCUMENTOS HISTÓRICOS EM SALA DE AULA
Ao propor nosso produto educacional, tivemos uma preocupação constante em não inverter papeis no sentido de centralizar a ferramenta a despeito da substância. Por isso enfatizamos: nosso objetivo é apresentar reflexões teórico-metodológicas e propostas práticas que centralizem a prática docente embasada nos conceitos historiográficos. Nosso produto educacional é a proposta de sequências e práticas didáticas que estão hospedadas neste site. Tivemos acesso à maioria das fontes e materiais bibliográficos a partir de ferramentas eletrônicas, porém é importante salientar que estas ferramentas são importantes no sentido de potencializar o desenvolvimento do conhecimento histórico e facilitar o acesso a materiais (bibliográficos ou documentais) que seriam inacessíveis sem elas, contudo uma memória virtual repleta de arquivos de texto, de imagens, vídeos de documentos, não produz o conhecimento, mas sim a sua leitura, análise e interpretação, pelos meios que forem disponíveis: alguma tela ou alguma impressão.
Sendo assim, sugeriremos algumas sequências didáticas nos utilizando das fontes que apresentamos neste site, tendo como critérios alguns pressupostos importantes a serem destacados:
01. Não há pretensão alguma em desenhar planos de aula ou ensinar professores a darem aula. Nosso objetivo é oferecer sugestões a partir do aprofundamento de nossa pesquisa temática;
02. Conhecedores que somos, todos nós professores, do cotidiano de nossas escolas, sabemos que condicionantes diversas não contribuem para o nosso trabalho docente, o que ocasiona relativamente pouco tempo para o trabalho aprofundado como o aqui proposto;
03. A utilização de fontes em demasia não contribui para a aprendizagem histórica. Nosso objetivo é que os estudantes desenvolvam ferramentas históricas para que, com autonomia, apliquem-nas em sua vida cotidiana. Porém, o grande leque de fontes apresentadas se justifica no sentido de oferta de opções a serem selecionadas pelo professor;
04. O bloco de aulas para o desenvolvimento de uma atividade como a proposta não pode ser muito curto porém não é viável que se estenda indefinidamente. Por isso acreditamos que entre quatro e seis aulas seria possível o desenvolvimento de nossa proposta.
TRABALHO COM OS DOCUMENTOS HISTÓRICOS
Segundo Maria Auxiliadora Schmidt e Marlene Cainelli em seu livro ENSINAR HISTÓRIA, o trabalho com as fontes históricas passa pela identificação, explicação e comentário do documento. A identificação não é uma simples leitura do documento. Significa um trabalho que passa por várias fases e pode ser considerado um primeiro olhar crítico sobre o documento. A explicação, por sua vez, é diferente. Explicar o documento significa fazer o aluno confrontar seus conhecimentos ou os dados que obteve em uma pesquisa com os elementos constitutivos do documento.
Na primeira fase, de identificação, é importante que os estudantes aprendam a categorizar as fontes de acordo com sua tipologia: fontes materiais, fontes escritas, fontes visuais ou fontes orais. Além disso, a natureza da fonte determina diferentes abordagens de análise: documentos oficiais, documentos descritivos, documentos opinativos, documentos religiosos, documentos não expressivos, porém significativos.
Francisco César Ferraz produziu um quadro com problematizações possíveis num documento histórico. O objetivo específico de seu quadro é voltado para fontes visuais, porém por sua estruturação, com base em perguntas diretas para a fonte, pode ser aplicado a fontes de diferentes naturezas.
Em síntese, a identificação da fonte histórica segue os seguintes passos:
Determinar a origem do documento: Identificar e registrar as referências de onde e quanto o documento foi encontrado; a data de sua produção e a forma de reprodução e divulgação (fotocópia, internet etc.).
Natureza do documento: classificação como documento oficial, documento que exprime ponto de vista ou gosto, documento que procura descrever a realidade, documento religioso, entre outras classificações.
Autor do documento: Classificação da autoria do documento: autor conhecido ou não, individual ou coletivo.
Datação do documento: Enumeração de datas provenientes do próprio documento, de data da difusão do documento e da data de nosso conhecimento do documento.
Pontos importantes do documento: Enumeração de elementos que identifiquem a forma e o conteúdo do documento, como principais ideias, palavras-chave, fórmulas e expressões (SCHMIDT, 2004, p. 100).
Já para a segunda fase, a explicação do documento, o estudante deve contextualizar o documento e observar, de forma crítica como o conteúdo do documento se relaciona com fatos, dados e interpretações historiográficas, apresentadas pelo professor ou que ele obteve a partir de pesquisas prévias. Schmidt também apresenta uma síntese desta fase:
O documento procura expor a verdade? O documento pretende atingir um grupo de pessoas em particular? Com quais objetivos foi produzido o documento? Como o documento apresenta a realidade? Por quê? O que é realçado no documento? Quais as relações dos dados com o lugar de onde o documento está falando? Quais intenções essa(s) relação(ões) revela(m)? Há correspondência entre as datas de produção e de difusão do documento? Quais eventos importantes ocorreram quando o documento foi produzido ou publicado? Quais palavras explicam melhor o documento? Quais conhecimentos permitem melhor compreender o sentido do documento? (SCHMIDT, 2004, p. 101).
Todos estes procedimentos são importantes e garantem, em sala de aula, o rigor metodológico do trabalho do historiador para que não venhamos a cair nas armadilhas da história, como, por exemplo, os anacronismos.
São encaminhamentos importantes a serem seguidos em todas as aulas nas quais os documentos serão apresentados aos estudantes. Por isso a importância de exercícios que sedimentem este método, reiteradas vezes, o que tornará a postura crítica dos estudantes perante qualquer situação, mesmo cotidiana, uma prática naturalizada.
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